O termo Agricultura Digital se refere a uma forma ubíqua de oferecer informação, produtos e serviços para todos os elos da cadeia agropecuária, fazendo uso intensivo do aparato tecnológico e mudança cultural da era da transformação digital. Trata-se de uma evolução da Agricultura de Precisão, baseada em tecnologias, para um modelo fortemente baseado no negócio. Um dos princípios básicos deste conceito é a experiência do usuário como o cerne da transformação digital.
A Embrapa tem atuado para estar em consonância com estas tendências e aplicá-las, com protagonismo, no sistema produtivo agropecuário brasileiro. Os desafios inerentes ao conceito da Agricultura Digital, entretanto, vão muito além do desenvolvimento de novas soluções de TI aplicadas. Trata-se também de adequar processos de negócio para possibilitar desenvolver tais soluções em parceria com a iniciativa privada e transferi-las com a agilidade do mercado de vanguarda tecnológica.
Assim, foi estabelecida uma Estratégia de Aceleração Digital na Embrapa que visa estabelecer um macroprocesso de desenvolvimento de ativos digitais para viabilizar novos negócios da transformação digital do agro, visando contribuir diretamente com a missão da Empresa. Neste macroprocesso os ativos digitais nascem por meio de um esforço multidisciplinar envolvendo cientistas especialistas em produtos agropecuários e pesquisadores da computação científica; atingem sua puberdade ao serem empacotados em soluções digitais que podem ser utilizados pelo público alvo; e, alcançam sua maturidade plena ao comporem um negócio digital.
Demandas por novos ativos digitais já são atualmente controladas pelo Sistema Embrapa de Gestão (SEG), sendo orquestradas pela área de PD&I. Assim, desde o levantamento de necessidade e sua concepção até sua maturidade plena, um ativo digital passa por etapas evolutivas que o farão progredir em fases de maturidade até alcançar seu público final. Veja mais sobre isso no artigo dedicado ao conceito de rodadas evolutivas.
Além disso, visando mitigar a fragmentação dos ativos, no contexto deste macroprocesso de desenvolvimento, os ativos digitais são orquestrados em ecossistemas temáticos para atender às inúmeras cadeias de produção da agricultura brasileira. O modelo proposto, conforme mostrado na figura abaixo, possui portanto duas dimensões: um eixo vertical, baseado na Escala de Maturidade TRL/MRL, e outro eixo horizontal, de orquestração dos ativos em ecossistemas temáticos digitais, sendo eles: agricultura (e fruticultura), pecuária (produção animal), aquicultura (e pesca), florestas (e silvicultura) e indústria de processamento.
Em cada uma das fases do eixo vertical, haverá mudança no foco de desenvolvimento. A Fase I é centrado na computação científica e, portanto, no uso de tecnologias habilitadoras para o desenvolvimento de novos modelos, algoritmos e circuitos inovadores com o uso massivo de dados agropecuários.
Na Fase II ocorre a manufatura digital do ativo visando encapsulá-lo em um produto viável palatável ao público final. Trata-se portanto de um trabalho de Engenharia de Software, que será conduzido por um arquiteto de soluções digitais. O ativo empacotado poderá ser entregue por meio dos marketplaces da Embrapa, tal como o AgroAPI, ou privados (em Beta Release), visando compor a vitrine de tecnologias da Empresa.
Por fim, na Fase III ocorre a transferência mercadológica, onde almeja-se alcançar a maturidade plena do ativo com a finalização de um plano de negócio, identidade visual e UI/UX bem definida, plano de marketing, transferência de tecnologia e apuração de royalties.
Foi com o intuito de materializar os conceitos preconizados no macroprocesso e permitir que equipes de desenvolvimento de software das comunidades internas e externas à Embrapa pudessem desenvolver ativos para a agricultura digital de forma ágil, eficiente e aderente aos princípios deste macroprocesso, que foi desenvolvida a plataforma de DevOps denominada Embrapa I/O.
A plataforma permite que sejam estruturados projetos de software de ativos digitais para a agropecuária, guiando os desenvolvedores em padrões e métodos bem definidos. Trata-se de uma ferramenta que unifica os repositórios de código-fonte destes ativos e automatiza diversas atividades inerentes ao processo de desenvolvimento de software, tal como teste, integração e entrega contínuas, monitoramento de erros, geração de relatórios analíticos de uso e busca ativa por vulnerabilidades (CVEs).
Conforme pode ser visto na arquitetura do Embrapa I/O, a plataforma integra uma série de ferramentas visando possibilitar a automação de tarefas que, de outra forma, iriam onerar a equipe de desenvolvimento.